Ana Paula Cruz
Guardiã de Memórias
Textos
O bode e a onça
  Para meu querido pai Ilton

 A onça resolveu fazer
uma casa pra morar,
ao chegar perto do rio
escolheu um bom lugar,
limpou todo o terreno
foi pra mata descansar.
 
O bode... que coincidência!
Uma casa quis fazer,
ao passar perto do rio,
num momento de lazer,
viu um terreno limpinho
e pensa: Será aqui o lar
que eu quero ter.”
 
Muito contente o bode,
cortou depressa as madeiras,
pra adiantar o serviço,
cercou a casa inteira,
como já estava bem tarde,
dormiu embaixo de uma figueira.
 
No outro dia bem cedo,
a onça chegou animada,
foi continuar a construção,
 ficou muito espantada,
a casa estava armadinha,
não faltava quase nada!
 
Botou janela e porta,
enchimento nas paredes
foi embora bem cansada
descansar na relva verde.
O bode chegou apressado,
pulou no rio pra matar sua sede.
 
Saciado, observou seu lar,
com janela, porta e até campainha,
ficou tão admirado com tudo aquilo
que agradeceu a Tupã pela “ajudinha”.
Foi depressa tapar com taipa
o telhado da bela casinha.
 
O bode foi buscar os móveis,
todo alegre e saltitante.
A onça quando chegou
ficou toda confiante,
agradeceu a Tupã,
o seu grande ajudante.
 
O bode entusiasmado
voltou com a sua mudança,
 para o seu desespero
deu de cara com a onça,
ficaram olhando um pro outro
com ar de desconfiança.

Foi aí que perceberam
o que havia acontecido
              “Esta casa é só minha”                
disse o bode aborrecido.
“Então vamos morar juntos”,
propõe a onça com ar desiludido.
 
E assim foi algum tempo,
Cada um se respeitava,
Mas... de  medo ficavam tremendo!
À noite, o bode espirrava
 na parede dava cabeçadas.
E a onça ? Com fome rugia.
 
Então a onça saiu pra caçar,
voltou com um cabrito morto,
pediu pro amigo preparar.
foi aquele desconforto,
o bode limpando a caça
e observando a amiga com  “olho torto”.
 
Chegou a vez do bode
que saiu para caçar,
encontrou uma onça morta,
Que sorte !.... carregou- a até o lar.
A onça ficou assustada
não podia acreditar.
 
Nesta noite, ninguém dormiu,
a confusão estava armada,
o bode prá lá e pra cá, sem querer,
na madeira deu uma cabeçada,
a onça tomou um susto
pra se defender deu uma urrada.
 
Assustados, sairam correndo,
pela madrugada afora,
correram tanto, loucamente,
até o despertar da aurora,
tem muita gente que conta ...
que estão correndo até agora.

 
 
Muitos fatos marcaram minha infância, mas, até hoje uma das mais belas recordações que guardo é a do meu pai, contando histórias para mim e a minha irmã (Cris).
Ficávamos deitados em sua cama de casal e ele não se cansava de contar aquelas histórias. “O bode e a onça” era a minha preferida.
Muitas vezes, fazíamos teatro de sombras no quarto escuro, tendo como luz as frestas da janela de madeira do quarto onde meus pais dormiam. Bons tempos!
Cresci mais em mim permaneceu o gosto pelas histórias e a vontade de contá-las, principalmente para as crianças, que hoje, infelizmente com a correria do dia-a-dia quase não tem tempo para ficarem com os seus pais e muito menos ouvirem estas histórias gostosas que nos tornam mais humanos e felizes.
Nós, adultos, também merecemos relembrar tudo isto e sentirmos de volta aquele gostinho tão bom da infância.
Pai, obrigada por ter me apresentado este mundo encantado. Te amo !


Ana Paula Cruz
domínio público reescrito em versos por Ana Paula Cruz
Enviado por Ana Paula Cruz em 04/09/2012
Alterado em 21/06/2021
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